'A hora exige tudo de todos'
A comemoração do 25 de Abril com os 4 Presidentes foi um momento histórico. A reflexividade de viva voz, sobre o caminho feito (Mário Soares e Ramalho Eanes), sobre as responsabilidades e os desafios da conjuntura presente (Cavaco Silva) e sobre o futuro (Jorge Sampaio), é fundamental. O significado do momento foi, antes de mais, o de um balanço do nosso sistema político. E esse balanço que se inaugurou ontem deve ser repetido não só anualmente mas multiplicado em reflexividades em todas as instâncias políticas, institucionais e sociais. A soberania, enquanto vontade geral de um povo, está em causa e tal implica que todas as gerações de portugueses, dentro e fora de Portugal, se unam para repensar e reinventar Portugal.
A fórmula da reflexividade coloca cada um em dois tempos: o da sua acção e o da distância face à mesma. Mário Soares (o único de cravo ao peito) fez um discurso didáctico sobre o caminho percorrido mas referiu também, como Europeísta e face ao momento actual, a ausência da Europa e dos seus lideres. Ramalho Eanes, que viu o sistema partidário estabilizar-se, lembrou a responsabilidade dos políticos e disse haver quatro desafios partidários por realizar: o desburocratizar; o conter dos excesso ideológicos; o abrir dos partidos ou 'despartidarizar' e o descentralizar. Cavaco Silva, que criou a fórmula para poder dizer a várias vozes o que não poderia dizer sozinho, teve um discurso institucional face ao presente e à necessidade de plataformas de entendimento. No entanto, quanto a mim, o discurso do desafio maior foi o de Jorge Sampaio. Este foi o discurso virado para o futuro. O que nos disse foi que 'É tempo de mudarmos todos radicalmente', de 'renovar a democracia', de 'tornar a democracia mais viva, mais presente e mais participativa'. Enfim, disse que 'a hora exige tudo de todos'.
Depois deste momento resta-nos repetir a fórmula e repensar Portugal. Nos nossos partidos e associações, nas nossas universidades, nas nossas escolas, nos nossos encontros entre amigos e em família e sempre como cidadãos, cabe-nos pensar, antes de mais, o sistema político que temos. Qual a abertura ao pensamento independente? Qual a abertura à discussão de ideias? Qual a abertura à verdadeira reflexividade? E que peso pode ter tal pensamento e discussão na acção política?
Para além, e antes deste momento, já vários dos nossos 'senadores' vinham dando avisos à navegação. Jorge Miranda disse que o sistema partidário está comatoso, António Barreto referiu a ditadura obscena dos chefes partidários.... Creio que foi o próprio Mário Soares que disse que a renovação só pode vir de fora para dentro. De facto,não se vislumbra nas referências que se vão fazendo a possíveis programas eleitorais dos diversos partidos qualquer referência à reforma do sistema político. A preocupação dos partidos é de curto prazo e táctica. Mas a verdade é que parece nem sequer serem precisos programas políticos para que muitos dos portugueses já tenham escolhido em quem votar. As sondagens referem escolhas feitas mesmo sem qualquer partido ter apresentado o seu programa! É nisto em que se transformou a nossa democracia: uma venda de imagens, uma forma sem qualquer conteúdo, enfim uma completa ausência de reflexão para a qual contribuem continuamente os meios de comunicação.
Convinha que o momento histórico criado pela comemoração deste 25 de Abril fosse o princípio do fim da partidocracia em que caímos, o princípio do fim da ausência de relação entre os partidos e os cidadãos, o princípio do fim da alienação de imagens e formas que se sobrepõem à verdadeira discussão de ideias e reflexão. Mas para isso é preciso mudar o sistema político, abrir o campo da política à cidadania. Os independentes nas listas partidárias, as petições públicas, os referendo locais... que impacto têm, para que servem? É preciso ir muito além do folclore de cidadania que o sistema consegue de forma fácil e alegremente digerir. Tal folclore serve para afastar os cidadãos que o conseguem desconstruir e serve para a classe política dizer que a sociedade civil é frágil. Mas que tal se tentarem propor outras formas? Os círculos uninominais, as candidaturas independentes à Assembleia da República... Não é necessário considerar tais propostas como dogmas a aceitar ou a rejeitar de imediato mas é preciso urgentemente uma cidadania política e tal precisa de espaços de reflexão. O problema é que os programas políticos dos partidos (ao menos do que se vai perspectivando) estão muito longe destas preocupações.
terça-feira, 26 de abril de 2011
segunda-feira, 25 de abril de 2011
Dar o salto ou 'ir a salto'6
Boa Páscoa!
Para um laico desejar 'Boa Páscoa' pode soar estranho. Pelo menos a mim soava-me. Afinal a Páscoa é o momento do calvário e da crucificação de Cristo. Mesmo que a história termine, para quem tem fé, pelo melhor, com a ressurreição, sentia sempre um certo incómodo indizível em desejar 'Boa Páscoa'. Mas, reflectindo bem, é adequado desejarmos 'Boa Páscoa' e é isso que desejo a todos. A Páscoa é, talvez, o mais importante dos rituais cristãos. No entanto, mais que isso, é um ritual que se relaciona com outras religiões e, mesmo, com a religião como um campo social específico, o campo de 'religare', o dos poucos elementos da Vida que nos ligam a todos.
Pessach, a palavra hebraica para Páscoa significa 'passagem' e poderá referir-se à passagem, há cerca de 3500 anos, do Senhor pelo Egito instruindo Moisés para salvar os primogénitos judeus do anjo da morte pelo sacrifício dos cordeiros e a marcação das portas com o seu sangue. Uma vez que tal momento levou à libertação do povo de Israel, Pessach é também a comemoração do êxodo dos israelitas do Egito da escravidão para a liberdade. E para a Terra Prometida. E, para além de tudo, Pessach é uma comemoração de 7 dias e, nesse sentido, é um ritual cosmogónico que remete para a criação do mundo. Pessach em Hebreu, Pascae em Latim, Paska em grego remete assim para o sacrifício, para a viagem, e para o renascimento em liberdade, noutro lugar.
Noutras coordenadas, os Celtas, na Europa Ocidental, pelo segundo milénio antes de Cristo, celebravam pela altura do equinócio da Primavera, o ciclo de morte e ressurreição da natureza, através da deusa Eostre ou Ostera (de onde vem a Easter anglo-saxónica e a Ostern germânica), deusa da fertilidade e abundância que é representada com um ovo, símbolo do nascimento, na mão e uma lebre, símbolo da fertilidade e também da Lua, no colo.
A Páscoa comemora-se na primeira semana a seguir à Lua Cheia que surge depois do equinócio da Primavera e é o ritual da renovação que, em última análise, liga os humanos e a natureza no que une as nossas histórias, o ciclo de nascimento, morte e renascimento. Neste tempo em que precisamos de 'luz crescente' e de renovação pois desejo a todos nós uma Boa Páscoa!
Para um laico desejar 'Boa Páscoa' pode soar estranho. Pelo menos a mim soava-me. Afinal a Páscoa é o momento do calvário e da crucificação de Cristo. Mesmo que a história termine, para quem tem fé, pelo melhor, com a ressurreição, sentia sempre um certo incómodo indizível em desejar 'Boa Páscoa'. Mas, reflectindo bem, é adequado desejarmos 'Boa Páscoa' e é isso que desejo a todos. A Páscoa é, talvez, o mais importante dos rituais cristãos. No entanto, mais que isso, é um ritual que se relaciona com outras religiões e, mesmo, com a religião como um campo social específico, o campo de 'religare', o dos poucos elementos da Vida que nos ligam a todos.
Pessach, a palavra hebraica para Páscoa significa 'passagem' e poderá referir-se à passagem, há cerca de 3500 anos, do Senhor pelo Egito instruindo Moisés para salvar os primogénitos judeus do anjo da morte pelo sacrifício dos cordeiros e a marcação das portas com o seu sangue. Uma vez que tal momento levou à libertação do povo de Israel, Pessach é também a comemoração do êxodo dos israelitas do Egito da escravidão para a liberdade. E para a Terra Prometida. E, para além de tudo, Pessach é uma comemoração de 7 dias e, nesse sentido, é um ritual cosmogónico que remete para a criação do mundo. Pessach em Hebreu, Pascae em Latim, Paska em grego remete assim para o sacrifício, para a viagem, e para o renascimento em liberdade, noutro lugar.
Noutras coordenadas, os Celtas, na Europa Ocidental, pelo segundo milénio antes de Cristo, celebravam pela altura do equinócio da Primavera, o ciclo de morte e ressurreição da natureza, através da deusa Eostre ou Ostera (de onde vem a Easter anglo-saxónica e a Ostern germânica), deusa da fertilidade e abundância que é representada com um ovo, símbolo do nascimento, na mão e uma lebre, símbolo da fertilidade e também da Lua, no colo.
A Páscoa comemora-se na primeira semana a seguir à Lua Cheia que surge depois do equinócio da Primavera e é o ritual da renovação que, em última análise, liga os humanos e a natureza no que une as nossas histórias, o ciclo de nascimento, morte e renascimento. Neste tempo em que precisamos de 'luz crescente' e de renovação pois desejo a todos nós uma Boa Páscoa!
quinta-feira, 21 de abril de 2011
Dar o salto ou 'ir a salto'5
M12M
A Geração à Rasca deu origem ao M12M, Movimento 12 de Março, apresentado a 20 de Abril, ontem, em frente ao Cinema S. Jorge em Lisboa. É ver: http://tvnet.sapo.pt/noticias/video_detalhes.php?id=66694
Esta é uma boa notícia. Significa que não estamos mortos, que há quem queira pensar. E quem esteja disposto a pensar 'out of the box'. E basta haver quem queira pensar de forma livre para que muita coisa possa mudar. Este movimento começa citando Saramago, evidenciando a vocação 'crítica' com a qual não poderia estar mais de acordo: "...o que verdadeiramente falta |...|é a capacidade de intervenção do cidadão em todas as circunstâncias da vida pública. Ou seja, fazer de cada cidadão um político.". O M12M pretende ir além da nossa já pouco útil democracia representativa e abrir caminho a uma democracia mais participativa, o caminho que se faz caminhando da democracia representativa para uma democracia que se deseja o mais direta possível.
Neste país a independência de pensamento e de intervenção políticas é praticamente impossível. Os independente ou são votados à indiferença ou mesmo ao ridículo da impotência de vozes no deserto ou, se valem alguns votos, são comprados pelo sistema. O cidadão está condenado à liberdade pela negativa do voto. A propaganda faz do voto um dever ao mesmo tempo que, com toda a demagogia possível, faz do cidadão um mero votante. Assim, é de louvar a energia de resistir de todos aqueles que procuram pensar de forma independente pretendendo ser, mais que votantes, cidadãos políticos!
A Geração à Rasca deu origem ao M12M, Movimento 12 de Março, apresentado a 20 de Abril, ontem, em frente ao Cinema S. Jorge em Lisboa. É ver: http://tvnet.sapo.pt/noticias/video_detalhes.php?id=66694
Esta é uma boa notícia. Significa que não estamos mortos, que há quem queira pensar. E quem esteja disposto a pensar 'out of the box'. E basta haver quem queira pensar de forma livre para que muita coisa possa mudar. Este movimento começa citando Saramago, evidenciando a vocação 'crítica' com a qual não poderia estar mais de acordo: "...o que verdadeiramente falta |...|é a capacidade de intervenção do cidadão em todas as circunstâncias da vida pública. Ou seja, fazer de cada cidadão um político.". O M12M pretende ir além da nossa já pouco útil democracia representativa e abrir caminho a uma democracia mais participativa, o caminho que se faz caminhando da democracia representativa para uma democracia que se deseja o mais direta possível.
Neste país a independência de pensamento e de intervenção políticas é praticamente impossível. Os independente ou são votados à indiferença ou mesmo ao ridículo da impotência de vozes no deserto ou, se valem alguns votos, são comprados pelo sistema. O cidadão está condenado à liberdade pela negativa do voto. A propaganda faz do voto um dever ao mesmo tempo que, com toda a demagogia possível, faz do cidadão um mero votante. Assim, é de louvar a energia de resistir de todos aqueles que procuram pensar de forma independente pretendendo ser, mais que votantes, cidadãos políticos!
quinta-feira, 14 de abril de 2011
Dar o salto ou 'ir a salto' 4
O mecanismo do bode expiatório e a violência mimética
Um dos mecanismos básicos de poder social é o do 'bode expiatório', muito relembrado nos últimos anos pela renomeação como 'bullying' e sua proliferação nas escolas. Deixando de lado especificidades, em termos sócio-antropológicos a coisa é simples: escolhe-se um alvo, exploram-se as suas fragilidades e propagandeia-se a sua culpa em relação a algo ou até, simplesmente, o seu repúdio. Se corre bem, consegue-se convencer muitos e, em alguns casos, o próprio aceita a sua culpa ou/e o seu próprio repúdio. No final celebra-se colectivamente a humilhação, a exclusão, enfim a morte, simbólica ou não, do bode expiatório como culpado de todo o mal acreditando-se numa renovação a partir daí. Se a coisa corre mal e a vítima não se aceita como tal, e consegue também reunir o seu séquito, pode entrar-se numa 'violência mimética' entre dois ou mais grupos que pode mesmo contaminar todos. Por vezes, se aparece um oponente mais forte estranho aos dois ou mais grupos que se guerreiam, estes podem juntar-se - às vezes apenas circunstancialmente - para se oporem a esse inimigo comum. Todos estes mecanismos se evidenciam no actual momento político, quer na arena central da política, quer no quotidiano, nas conversas que vão surgindo aqui e ali.
O mecanismo do 'bode expiatório' tornou-se central desde o início e continua a acompanhar e mesmo a estruturar a campanha eleitoral. Em resposta iniciou-se a 'violência mimética', ou seja, se Passos Coelho e o PSD são culpados da crise política, Sócrates e o PS são culpados da crise económica e social. Cada um chamou a malta do seu bairro e é vê-los entretidos na violência mimética de tal forma que pouco falam do oponente mais forte de toda esta brincadeira: os 'mercados', essa figura mítica e mágica que os economistas (esses feiticeiros modernos) inventaram, e os rituais das agências de rating que fazem com que a magia se torne real, ainda que nem os economistas a consigam explicar. De certo modo é natural: o monstro depois de criado ganhou autonomia ainda que não haja 'mãos invisíveis' mas pessoas e estratégias que, como em relação a 2008 , estou certo que serão descobertas mais tarde ou mais cedo. PS e PSD, no seu pragmatismo, deixaram de falar deste oponente maior que aí contínua a manter os juros da divida elevados, independentemente do 'resgate'. O Bloco e o PCP foram os únicos a falar desse oponente maior e da necessidade de o colocar em causa.
Pois o que me parece é que nos vamos entreter com os 'bodes expiatórios' internos e a 'violência mimética' enquanto o Deus 'Mercados' (um deus de muitas cabeças) vai exigir mais 'sacrifícios' porque não está satisfeito. E se também não está ainda satisfeito com a Irlanda e a Grécia, é porque os objectivos do Deus 'Mercados' são muito altos. O que quererá de nós, mortais, o Deus 'Mercados'?
Eu assinei a petição: A Relevância das Agências de Rating e o Risco de Abuso de Posição Dominante - http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=denuncia
E já agora, a propósito, se puderem leiam o livro do Rui Zink - Destino Turístico
Um dos mecanismos básicos de poder social é o do 'bode expiatório', muito relembrado nos últimos anos pela renomeação como 'bullying' e sua proliferação nas escolas. Deixando de lado especificidades, em termos sócio-antropológicos a coisa é simples: escolhe-se um alvo, exploram-se as suas fragilidades e propagandeia-se a sua culpa em relação a algo ou até, simplesmente, o seu repúdio. Se corre bem, consegue-se convencer muitos e, em alguns casos, o próprio aceita a sua culpa ou/e o seu próprio repúdio. No final celebra-se colectivamente a humilhação, a exclusão, enfim a morte, simbólica ou não, do bode expiatório como culpado de todo o mal acreditando-se numa renovação a partir daí. Se a coisa corre mal e a vítima não se aceita como tal, e consegue também reunir o seu séquito, pode entrar-se numa 'violência mimética' entre dois ou mais grupos que pode mesmo contaminar todos. Por vezes, se aparece um oponente mais forte estranho aos dois ou mais grupos que se guerreiam, estes podem juntar-se - às vezes apenas circunstancialmente - para se oporem a esse inimigo comum. Todos estes mecanismos se evidenciam no actual momento político, quer na arena central da política, quer no quotidiano, nas conversas que vão surgindo aqui e ali.
O mecanismo do 'bode expiatório' tornou-se central desde o início e continua a acompanhar e mesmo a estruturar a campanha eleitoral. Em resposta iniciou-se a 'violência mimética', ou seja, se Passos Coelho e o PSD são culpados da crise política, Sócrates e o PS são culpados da crise económica e social. Cada um chamou a malta do seu bairro e é vê-los entretidos na violência mimética de tal forma que pouco falam do oponente mais forte de toda esta brincadeira: os 'mercados', essa figura mítica e mágica que os economistas (esses feiticeiros modernos) inventaram, e os rituais das agências de rating que fazem com que a magia se torne real, ainda que nem os economistas a consigam explicar. De certo modo é natural: o monstro depois de criado ganhou autonomia ainda que não haja 'mãos invisíveis' mas pessoas e estratégias que, como em relação a 2008 , estou certo que serão descobertas mais tarde ou mais cedo. PS e PSD, no seu pragmatismo, deixaram de falar deste oponente maior que aí contínua a manter os juros da divida elevados, independentemente do 'resgate'. O Bloco e o PCP foram os únicos a falar desse oponente maior e da necessidade de o colocar em causa.
Pois o que me parece é que nos vamos entreter com os 'bodes expiatórios' internos e a 'violência mimética' enquanto o Deus 'Mercados' (um deus de muitas cabeças) vai exigir mais 'sacrifícios' porque não está satisfeito. E se também não está ainda satisfeito com a Irlanda e a Grécia, é porque os objectivos do Deus 'Mercados' são muito altos. O que quererá de nós, mortais, o Deus 'Mercados'?
Eu assinei a petição: A Relevância das Agências de Rating e o Risco de Abuso de Posição Dominante - http://www.peticaopublica.com/PeticaoVer.aspx?pi=denuncia
E já agora, a propósito, se puderem leiam o livro do Rui Zink - Destino Turístico
quarta-feira, 13 de abril de 2011
Dar o salto ou 'ir a salto' 3
O programa dos homens do táxi
Era uma vez um Alemão, um Dinamarquês e um Italiano que foram chamados para consertar um país... É certamente assim que muitas anedotas vão começar. Mesmo antes delas existirem (e podem enviar-mas para ir colocando neste diário da crise) podemos imaginar uma tipologia para as mesmas: o anedotário do país; o dos políticos; o do FMI e do FEEF (Surgirem 3 Fs aquando da intervenção em Portugal quando não existiam na da Irlanda e da Grécia já é destino!); o da Europa; etc. A moral final até pode ser 'Como um pequeno país deu cabo da Europa!'! Pelo menos esse medo surgiu já no elefante Alemão! Bom, por falar em Alemão, voltemos a ele, ao Dinamarquês e ao Italiano: os homens do táxi! Creio que, na verdade, só o italiano foi filmado a entrar no táxi à saída do aeroporto. Presumo que os demais farão o mesmo! Mas a ideia de 'homens do táxi' agrada-me por outra razão: já repararam que afinal bastam 3 homens e um mês de trabalho (o timing foi o do Ministro das Finanças pois o dinheiro acaba em Junho) para fazer um programa político para os próximos anos em Portugal?!Não acham estranho termos pago e continuarmos a pagar a tantos políticos para nos governarem...? Afinal bastava pagar a 3...e ao táxi!
Há ainda aqui um pequeno nada a considerar. A Europa já disse que não vai ter 'imaginação' para 'programas interinos' e 'empréstimos intercalares'. Dito de outro modo, o programa dos 'homens do táxi' é o que vai ser adoptado obrigatoriamente pelo próximo governo, seja ele qual for... de qualquer que seja o partido. Portanto, meus amigos vejam lá em quem vão votar! O vosso voto é muito importante pois qualquer que seja a vossa escolha (lembrem-se quando fizerem a cruzinha) é no programa dos 'homens do táxi' que estão a votar, de facto. Aqueles que forem eleitos (e depois de todas as coligações que farão pouco dos votantes e do que se disse na campanha)poderão fazer melhor ou pior as pantominas mas por detrás deles, e de nós, estão os 'homens do táxi' com os Fs todos.
Era uma vez um Alemão, um Dinamarquês e um Italiano que foram chamados para consertar um país... É certamente assim que muitas anedotas vão começar. Mesmo antes delas existirem (e podem enviar-mas para ir colocando neste diário da crise) podemos imaginar uma tipologia para as mesmas: o anedotário do país; o dos políticos; o do FMI e do FEEF (Surgirem 3 Fs aquando da intervenção em Portugal quando não existiam na da Irlanda e da Grécia já é destino!); o da Europa; etc. A moral final até pode ser 'Como um pequeno país deu cabo da Europa!'! Pelo menos esse medo surgiu já no elefante Alemão! Bom, por falar em Alemão, voltemos a ele, ao Dinamarquês e ao Italiano: os homens do táxi! Creio que, na verdade, só o italiano foi filmado a entrar no táxi à saída do aeroporto. Presumo que os demais farão o mesmo! Mas a ideia de 'homens do táxi' agrada-me por outra razão: já repararam que afinal bastam 3 homens e um mês de trabalho (o timing foi o do Ministro das Finanças pois o dinheiro acaba em Junho) para fazer um programa político para os próximos anos em Portugal?!Não acham estranho termos pago e continuarmos a pagar a tantos políticos para nos governarem...? Afinal bastava pagar a 3...e ao táxi!
Há ainda aqui um pequeno nada a considerar. A Europa já disse que não vai ter 'imaginação' para 'programas interinos' e 'empréstimos intercalares'. Dito de outro modo, o programa dos 'homens do táxi' é o que vai ser adoptado obrigatoriamente pelo próximo governo, seja ele qual for... de qualquer que seja o partido. Portanto, meus amigos vejam lá em quem vão votar! O vosso voto é muito importante pois qualquer que seja a vossa escolha (lembrem-se quando fizerem a cruzinha) é no programa dos 'homens do táxi' que estão a votar, de facto. Aqueles que forem eleitos (e depois de todas as coligações que farão pouco dos votantes e do que se disse na campanha)poderão fazer melhor ou pior as pantominas mas por detrás deles, e de nós, estão os 'homens do táxi' com os Fs todos.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Dar o salto ou 'ir a salto' 2
Os pobres de alto rendimento
Há muito já que percebi que muitos dos que se juntam a partidos políticos o fazem por uma questão de 'defesa' do seu estatuto social e económico ou no sentido de conquistar um, quando o não têm. Tal é suficiente para significar uma fragilidade e, mesmo, uma perversidade da nossa democracia. Há uma consciência, da parte de tais aderentes, da partidocracia, da sua utilidade face a interesses pessoais e da ausência de equidade e meritocracia. E, no entanto, são capazes de vir defender estes valores, ainda que o seu próprio comportamento social e político seja o primeiro a desmenti-lo. E, deve-se dizê-lo, haverá destes personagens em todo o espectro político, ainda que o 'arco do poder' lhes seja, evidentemente, mais apelativo.
No entanto, na actual crise, é ver o paradoxo ainda mais forte em que tais personagens caem, tornando-se, chamemos-lhes assim, 'pobres de alto rendimento'. De facto, se muitos se tornaram militantes para 'defender' ou conquistar um nível de escolhas elevado, agora vêem-se na circunstância de hipotecar quase todas as escolhas em função da única que acabam por considerar fundamental: o rendimento atingido em função da sua vinculação partidária. A esfera pública está repleta destes personagens lúgubres que revelam pelas suas palavras escritas ou faladas terem hipotecado a sua consciência moral social e política individuais para defenderem o pensamento único e atávico partidário. Tudo em função de um qualquer lugar de alto rendimento atingido pelo encosto partidário. Noutros casos, ainda, tal consciência (quando existe) é hipotecada tão só na esperança, porventura prometida, de um desses lugares de alto rendimento. Assim, os partidos surgem-nos neste momento como lugares de grande paradoxo: lugares que representam a escolha democrática e que premeia aqueles que hipotecam a sua capacidade de escolha.
Resultado: estamos rodeados na esfera pública de pobres de altíssimo rendimento. Ora tal pobreza empobrece-nos a todos: a cada um de nós como indivíduos e ao país! Num país de pobres e alto rendimento que promove a mediocridade e que a inteligência e a reflexão se auto-censuram em troca de trocos, o que resta fazer? Onde estão as células de resistência reflexiva que defendam uma participação mais alargada? Quem luta esta luta pelo fim da partidocracia e dos pobres de alto rendimento? Se a única escolha/participação é o voto em partidos que funcionam pela hipoteca das escolhas à reprodução no poder, este é um país que opta pela liberdade pela negativa. Devemos lutar por um país de liberdade pela positiva, de verdadeiras escolhas. Por nós e pelos nossos filhos! A mudança é urgente. Ou mudamos o país ou mais vale mudarmos de país!
Há muito já que percebi que muitos dos que se juntam a partidos políticos o fazem por uma questão de 'defesa' do seu estatuto social e económico ou no sentido de conquistar um, quando o não têm. Tal é suficiente para significar uma fragilidade e, mesmo, uma perversidade da nossa democracia. Há uma consciência, da parte de tais aderentes, da partidocracia, da sua utilidade face a interesses pessoais e da ausência de equidade e meritocracia. E, no entanto, são capazes de vir defender estes valores, ainda que o seu próprio comportamento social e político seja o primeiro a desmenti-lo. E, deve-se dizê-lo, haverá destes personagens em todo o espectro político, ainda que o 'arco do poder' lhes seja, evidentemente, mais apelativo.
No entanto, na actual crise, é ver o paradoxo ainda mais forte em que tais personagens caem, tornando-se, chamemos-lhes assim, 'pobres de alto rendimento'. De facto, se muitos se tornaram militantes para 'defender' ou conquistar um nível de escolhas elevado, agora vêem-se na circunstância de hipotecar quase todas as escolhas em função da única que acabam por considerar fundamental: o rendimento atingido em função da sua vinculação partidária. A esfera pública está repleta destes personagens lúgubres que revelam pelas suas palavras escritas ou faladas terem hipotecado a sua consciência moral social e política individuais para defenderem o pensamento único e atávico partidário. Tudo em função de um qualquer lugar de alto rendimento atingido pelo encosto partidário. Noutros casos, ainda, tal consciência (quando existe) é hipotecada tão só na esperança, porventura prometida, de um desses lugares de alto rendimento. Assim, os partidos surgem-nos neste momento como lugares de grande paradoxo: lugares que representam a escolha democrática e que premeia aqueles que hipotecam a sua capacidade de escolha.
Resultado: estamos rodeados na esfera pública de pobres de altíssimo rendimento. Ora tal pobreza empobrece-nos a todos: a cada um de nós como indivíduos e ao país! Num país de pobres e alto rendimento que promove a mediocridade e que a inteligência e a reflexão se auto-censuram em troca de trocos, o que resta fazer? Onde estão as células de resistência reflexiva que defendam uma participação mais alargada? Quem luta esta luta pelo fim da partidocracia e dos pobres de alto rendimento? Se a única escolha/participação é o voto em partidos que funcionam pela hipoteca das escolhas à reprodução no poder, este é um país que opta pela liberdade pela negativa. Devemos lutar por um país de liberdade pela positiva, de verdadeiras escolhas. Por nós e pelos nossos filhos! A mudança é urgente. Ou mudamos o país ou mais vale mudarmos de país!
Dar o salto ou 'ir a salto' 1
A eficácia social da mentira
O contexto em que vivemos torna, no mínimo, interessante dar alguma atenção à relação entre mentira e sociedade. A mentira social pode tomar várias formas: o 'rumor', o 'boato', a 'censura', a 'representação cínica', a 'mitomania', etc. De uma ou outra forma a mentira social é uma forma de poder que promove a manipulação activa, e segundo pressupostos falsos, de um grupo social sobre os demais. Quando a mentira se revela eficaz socialmente sem qualquer sanção jurídica ou moral passa mesmo a ser um valor positivo, um padrão, uma forma de vida. Ou seja, quando a mentira ganha eficácia social confunde-se com uma 'visão', um 'programa' e mesmo com a 'determinação' necessária para trazer à existência tal realidade. Porventura, já eufemisticamente, alguns revelam parte do jogo referindo-se à mentira instituída como mera 'propaganda', 'demagogia' ou 'eleitoralismo'. No entanto, para o 'verdadeiro mentiroso' tal acusação significa apenas que não se quer acreditar na sua 'visão' e não que ele é, de facto, mentiroso. Quando a classe política mente é nisto que se transforma a mentira: um mero jogo de linguagem em que vale tudo! E em que quem vence é quem sabe jogar o melhor possível: sem ser apanhado. Ou, mais sofisticadamente ainda como já acontece: a habilidade de mentir bem mesmo depois de ser apanhado. Quer dizer, criar pela mentira contínua a impossibilidade de ser apanhado pois a mentira é toda a realidade.
Ora este padrão de mentir - e especificamente a mentira patológica ou seja aquela em que o mentiroso acredita na mentira como verdade - tem tido tal eficácia política nos últimos tempos que tende a contaminar toda a sociedade. De facto há uma certa irrealidade da verdade. Queremos acreditar que talvez o rei não vá nu... E quem sabe talvez não vá, leva é vestida a última nova produção John Galliano! Os adeptos da verdade, pela consciência livre, pela lisura, pela escolha informada e pela participação cívica activa não são senão 'totós' ultrapassados numa altura em que a política se (i)legitima em jogos circunstanciais de um vale tudo espectacular pós-moderno desde que alimente a estratégia de poder.
Como nos lembrou muito bem Pasolini em 'Salò', evocando a ditadura para reflectir sobre a democracia, a narrativa de ilusão é o primeiro patamar antes da merda e do sangue. Devemos resistir de forma consciente agora, enquanto é tempo! Ou fugir do país.
O contexto em que vivemos torna, no mínimo, interessante dar alguma atenção à relação entre mentira e sociedade. A mentira social pode tomar várias formas: o 'rumor', o 'boato', a 'censura', a 'representação cínica', a 'mitomania', etc. De uma ou outra forma a mentira social é uma forma de poder que promove a manipulação activa, e segundo pressupostos falsos, de um grupo social sobre os demais. Quando a mentira se revela eficaz socialmente sem qualquer sanção jurídica ou moral passa mesmo a ser um valor positivo, um padrão, uma forma de vida. Ou seja, quando a mentira ganha eficácia social confunde-se com uma 'visão', um 'programa' e mesmo com a 'determinação' necessária para trazer à existência tal realidade. Porventura, já eufemisticamente, alguns revelam parte do jogo referindo-se à mentira instituída como mera 'propaganda', 'demagogia' ou 'eleitoralismo'. No entanto, para o 'verdadeiro mentiroso' tal acusação significa apenas que não se quer acreditar na sua 'visão' e não que ele é, de facto, mentiroso. Quando a classe política mente é nisto que se transforma a mentira: um mero jogo de linguagem em que vale tudo! E em que quem vence é quem sabe jogar o melhor possível: sem ser apanhado. Ou, mais sofisticadamente ainda como já acontece: a habilidade de mentir bem mesmo depois de ser apanhado. Quer dizer, criar pela mentira contínua a impossibilidade de ser apanhado pois a mentira é toda a realidade.
Ora este padrão de mentir - e especificamente a mentira patológica ou seja aquela em que o mentiroso acredita na mentira como verdade - tem tido tal eficácia política nos últimos tempos que tende a contaminar toda a sociedade. De facto há uma certa irrealidade da verdade. Queremos acreditar que talvez o rei não vá nu... E quem sabe talvez não vá, leva é vestida a última nova produção John Galliano! Os adeptos da verdade, pela consciência livre, pela lisura, pela escolha informada e pela participação cívica activa não são senão 'totós' ultrapassados numa altura em que a política se (i)legitima em jogos circunstanciais de um vale tudo espectacular pós-moderno desde que alimente a estratégia de poder.
Como nos lembrou muito bem Pasolini em 'Salò', evocando a ditadura para reflectir sobre a democracia, a narrativa de ilusão é o primeiro patamar antes da merda e do sangue. Devemos resistir de forma consciente agora, enquanto é tempo! Ou fugir do país.
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