Os pobres de alto rendimento
Há muito já que percebi que muitos dos que se juntam a partidos políticos o fazem por uma questão de 'defesa' do seu estatuto social e económico ou no sentido de conquistar um, quando o não têm. Tal é suficiente para significar uma fragilidade e, mesmo, uma perversidade da nossa democracia. Há uma consciência, da parte de tais aderentes, da partidocracia, da sua utilidade face a interesses pessoais e da ausência de equidade e meritocracia. E, no entanto, são capazes de vir defender estes valores, ainda que o seu próprio comportamento social e político seja o primeiro a desmenti-lo. E, deve-se dizê-lo, haverá destes personagens em todo o espectro político, ainda que o 'arco do poder' lhes seja, evidentemente, mais apelativo.
No entanto, na actual crise, é ver o paradoxo ainda mais forte em que tais personagens caem, tornando-se, chamemos-lhes assim, 'pobres de alto rendimento'. De facto, se muitos se tornaram militantes para 'defender' ou conquistar um nível de escolhas elevado, agora vêem-se na circunstância de hipotecar quase todas as escolhas em função da única que acabam por considerar fundamental: o rendimento atingido em função da sua vinculação partidária. A esfera pública está repleta destes personagens lúgubres que revelam pelas suas palavras escritas ou faladas terem hipotecado a sua consciência moral social e política individuais para defenderem o pensamento único e atávico partidário. Tudo em função de um qualquer lugar de alto rendimento atingido pelo encosto partidário. Noutros casos, ainda, tal consciência (quando existe) é hipotecada tão só na esperança, porventura prometida, de um desses lugares de alto rendimento. Assim, os partidos surgem-nos neste momento como lugares de grande paradoxo: lugares que representam a escolha democrática e que premeia aqueles que hipotecam a sua capacidade de escolha.
Resultado: estamos rodeados na esfera pública de pobres de altíssimo rendimento. Ora tal pobreza empobrece-nos a todos: a cada um de nós como indivíduos e ao país! Num país de pobres e alto rendimento que promove a mediocridade e que a inteligência e a reflexão se auto-censuram em troca de trocos, o que resta fazer? Onde estão as células de resistência reflexiva que defendam uma participação mais alargada? Quem luta esta luta pelo fim da partidocracia e dos pobres de alto rendimento? Se a única escolha/participação é o voto em partidos que funcionam pela hipoteca das escolhas à reprodução no poder, este é um país que opta pela liberdade pela negativa. Devemos lutar por um país de liberdade pela positiva, de verdadeiras escolhas. Por nós e pelos nossos filhos! A mudança é urgente. Ou mudamos o país ou mais vale mudarmos de país!
segunda-feira, 11 de abril de 2011
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As abstenções, nulos e brancos têm favorecido a eleição dos Desgovernantes. É neles que os Mendigos-Do-Estado sempre votaram, até que nos tornamos neste Estado-Mendigo. Que outra coisa poderia resultar deste ciclo vicioso?
ResponderEliminarPodemos provocar a mudança estando presente e a votar em quem não provou ter já falhado.