A eficácia social da mentira
O contexto em que vivemos torna, no mínimo, interessante dar alguma atenção à relação entre mentira e sociedade. A mentira social pode tomar várias formas: o 'rumor', o 'boato', a 'censura', a 'representação cínica', a 'mitomania', etc. De uma ou outra forma a mentira social é uma forma de poder que promove a manipulação activa, e segundo pressupostos falsos, de um grupo social sobre os demais. Quando a mentira se revela eficaz socialmente sem qualquer sanção jurídica ou moral passa mesmo a ser um valor positivo, um padrão, uma forma de vida. Ou seja, quando a mentira ganha eficácia social confunde-se com uma 'visão', um 'programa' e mesmo com a 'determinação' necessária para trazer à existência tal realidade. Porventura, já eufemisticamente, alguns revelam parte do jogo referindo-se à mentira instituída como mera 'propaganda', 'demagogia' ou 'eleitoralismo'. No entanto, para o 'verdadeiro mentiroso' tal acusação significa apenas que não se quer acreditar na sua 'visão' e não que ele é, de facto, mentiroso. Quando a classe política mente é nisto que se transforma a mentira: um mero jogo de linguagem em que vale tudo! E em que quem vence é quem sabe jogar o melhor possível: sem ser apanhado. Ou, mais sofisticadamente ainda como já acontece: a habilidade de mentir bem mesmo depois de ser apanhado. Quer dizer, criar pela mentira contínua a impossibilidade de ser apanhado pois a mentira é toda a realidade.
Ora este padrão de mentir - e especificamente a mentira patológica ou seja aquela em que o mentiroso acredita na mentira como verdade - tem tido tal eficácia política nos últimos tempos que tende a contaminar toda a sociedade. De facto há uma certa irrealidade da verdade. Queremos acreditar que talvez o rei não vá nu... E quem sabe talvez não vá, leva é vestida a última nova produção John Galliano! Os adeptos da verdade, pela consciência livre, pela lisura, pela escolha informada e pela participação cívica activa não são senão 'totós' ultrapassados numa altura em que a política se (i)legitima em jogos circunstanciais de um vale tudo espectacular pós-moderno desde que alimente a estratégia de poder.
Como nos lembrou muito bem Pasolini em 'Salò', evocando a ditadura para reflectir sobre a democracia, a narrativa de ilusão é o primeiro patamar antes da merda e do sangue. Devemos resistir de forma consciente agora, enquanto é tempo! Ou fugir do país.
segunda-feira, 11 de abril de 2011
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